Ao falar de África, é bom ter presente que estamos
falando de grupos populacionais ou étnicos diferentes, com
características socioculturais próprias e com suas próprias línguas,
artes e seus próprios costumes. Na África, sagrado e profano não
constituem setores separados. O sagrado perpassa toda a vida da
comunidade. O sagrado não é um fenômeno dominical. As instituições tais
qual a família, o casamento, a organização social, são elas mesmas de
natureza religiosa.
Deste jeito, crença e organização social estão
intimamente ligadas e ambas deveriam dos antepassados, isto sé daqueles
que mesmo mortos são concebidos como atores sociais no grupo, participam
da vida do grupo e a influenciam. É o antepassado quem dita as regras e
normas de conduta; é o antepassado quem manda a chuva, fecunda a terra e
as mulheres. (Lundin,1992)
A religião se torna, portanto, um sistema de
símbolo que define como o mundo é e estabelece uma postura que a pessoa
deverá ter ao longo de sua vida. Estabelecer uma postura que uma pessoa
deverá ter ao longo de sua vida; estabelece um modo de sentir, viver e
agir. Tudo mergulha no sagrado e só tem sentido no âmbito das práticas
religiosas.
A religião penetra todos os aspectos da vida, e por
isso, não se pode fazer uma distinção formal entre o que se considera
sagrado e secular. Onde se encontra o individuo, ai esta a religião no
seu aspecto global.
As religiões africanas são partes integrantes de
todos os aspectos da vida das comunidades e são chamadas religiões
comunitárias, o sistema religioso é uma fonte de onde toda a vida
depende e que lhe confere um significado extremamente importante. Os
mais velhos tem a posição de mais próximo dos espíritos dos antepassados
e exerce a função de mediador entre os vivos e os mortos que o
responsabilizam pelas tarefas de poder e pela manutenção da ordem que os
espíritos criaram e querem que se mantenha.
Nas sociedades Africanas permeadas pela a presença
"dos antepassados que constituem na soma dos vivos, dos que ainda por
nascer". (Lundin, 1992, p.44)
Evangelizar significava "civilizar" de acordo com
os parâmetros ocidentais, significa educar para ser um "assimilado". E
assim o cristianismo conseguiu impor-se tirando o "assimilado", o
"convertido" do seu mundo cultural, religioso e familiar.
A população que vivia nas aldeias e nas tribos já
não tinha seus chefes e suas terras. Foram-lhes impostos novos "chefes
governamentais", totalmente desconhecidos e pertencentes a outros grupos
étnicos. Continuou assim o triste processo forçoso de alteração das
tradições, das estruturas sociais e psicológicos das tribos e das
pessoas que tinham que abandonar sua terra, seus antepassados, seus
lugares sagrados e ocupar as terras de outros.
Com toda essa mudança sociocultural, a sociedade
ficou doente, entrou numa desordem social total. Os ritos de iniciação
que constituíam para os jovens, estes momentos bem definidos e marcantes
de sua personalidade, tanto em nível pessoal como social e religioso,
foram desaparecendo sem ser substituído.
Os jovens desta geração perderam o contato com os
seus pais, com os mais velhos da sua aldeia, muitos jovens e muitas
crianças se encontram agora totalmente desenraizados do seu povo, da sua
aldeia e da sua cultura, sem nenhum ideal pelo qual lutar.
Tudo isso deu lugar aos fenômenos da marginalidade,
de prostituição, da droga, da corrupção, acompanhado pela grande
desvalorização do ser humano.
Não podemos esquecer também o crescente fenômeno de
urbanização, cada vez mais caótico e que leva ás periferias das cidades
grandes número de pessoas que fogem das guerras, das calamidades
naturais, que estão á procura de emprego ou de melhores condições e
qualidade de vida. Por isso, urge realizar um trabalho árduo e dinâmico
de recuperação, das raízes profundas do povo atual a superar a crise e o
vazio ético em consequência da imposição cruel de um modo de pensar e
agir da sociedade moderna ocidental.
Portanto a terra não só simboliza a fertilidade e a
vida, mas também o local sagrado que pertenceu e onde viveram e
morreram seus antepassados, sair da terra da sua aldeia ou tribo
significa romper com suas raízes culturais, perder sua identidade e
romper com sua comunidade.
No Brasil os negros experimentaram, no Brasil
colonial uma realidade que se encarregou de mantê-los em uma situação de
subalternidade, sendo alocados na base de uma sociedade sustentada pelo
trabalho escravo. Toda a inferioridade que é remetida, pela via
Lusitânia, ao trabalho escravo se encarrega de confundir ás
características subalternas do trabalho, o escravo, com a cor da pele
dos indivíduos que o realizam, os negros, que eram marginalizados pelas
representações culturais que se sedimentaram no regime escravocrata.
Dhiogo Jose Caetano
Graduando da UEG-Universidade Estadual de Goiás
Palavras-Chave: Educação, Religião, Sagrado, Símbolo, Trabalho, População, Cristianismo e negros.