segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Escravidão em Caruaru: Histórias Negras Invisibilizadas.


Por: Teresa Raquel

Assim como toda a História do Brasil, que durante muitos e muitos anos, não conhecíamos nossos heróis e heroínas negras, pois o currículo oficial só nos contava uma história: a do branco, como ainda hoje rege o Eurocentrismo, Caruaru, não é diferente, nem está fora deste contexto.
Onde estão as histórias dos Negros e Negras que foram parte do processo de construção da nossa cidade? Quem são? O que construíram? O que fizeram de importante em nossa cidade? Afinal, tinha negros escravizados em nossa cidade? Onde encontramos esses dados, essas histórias, esses fatos?
A história nos conta que José Rodrigues de Jesus, foi o Fundador da Cidade de Caruaru, invisibilizaram apenas o detalhe que era um escravocrata, “possuía” mais de 200 escravos, onde eram “guardados” onde atualmente é o Palácio Episcopal.
Quando chega na Fazenda Caruru, casa-se com sua sobrinha de apenas 13 anos e inicia o povoamento e a fundação da Cidade com sua irmã caçula, Maria da Conceição Rodrigues de Jesus, sua esposa Maria do Rosário Nunes e Negros Escravizados.
Em 05 de outubro de 1782, para homenagear sua mãe que era devota de Nossa Senhora da Conceição e por sua irmã mais nova também ter o mesmo nome, “constrói” a capela Nossa Senhora da Conceição.
Mas, quem construiu mesmo esse prédio? (...)
A Colonialidade do saber abordada por QUIJANO (2005), comumente ditou de modo sistemático, as histórias que deveríamos conhecer, quais histórias deveriam ser escritas e quais delas estariam no currículo.
O eurocentrismo,[1] respondia a essa colonialidade e selecionava as mais “belas” histórias, onde “herois” e heroinas” chegavam da Europa e “salvava” o Brasil com suas “geniais” ideias.
Os protagonistas dessa história, contada pela visão do colonizador, eram sempre homens e mulheres de origem europeia e um saber monológico foi instaurado na sociedade e não tínhamos conhecimentos do outro lado da história, das outras histórias que não nos eram contadas.
Daí que surgem nossas indagações a essa história única que foi contada, considerando as múltiplas faces, identidades, etnias, nessa relação que sempre existiu entre as Américas, a África e a Europa.
Parte do Continente Africano foi trazido para o Brasil, através da escravização. O Brasil é o segundo país negro do mundo em número de população com descendentes de africanos, só perdendo para Nigéria, portanto, por que não conhecemos nossa história com os atores que tiveram participação na construção desse país, como os homens e mulheres negras que foram “arrancados” dos Reinos da África? Por que silenciaram as histórias de nossos antepassados negros? Por que não conhecemos outras versões da História do Brasil?  Por que nos livros didáticos não nos identificamos nas histórias? E em nossas regiões, em nossas histórias locais, conhecemos nossas origens? Fala-se sobre os negros que escravizados, foram protagonistas da construção das nossas cidades?
É partindo dessa premissa da necessidade de conhecer nossas origens, nossa história local, pois geralmente conhecemos mais a história geral que as regionais (relação do macro com o micro) que ficamos curiosos em conhecer partes silenciadas da nossa história, com pretensão em desenvolver pesquisa sobre fatos históricos dos negros que viviam escravizados na fazenda e (depois) Vila de Caruaru (atualmente cidade Polo do Agreste).
Rodrigues (1985), nos instiga para importância dessa pesquisa ao dizer que “a pesquisa histórica é a descoberta cuidadosa e exaustiva de novos fatos históricos, ou então a possibilidade de revelar novos aspectos de acontecimentos já estudados, mas também é a busca crítica da documentação que os fundamente empiricamente” (p.176).
Essas novas descobertas, novos aspectos da história dos negros escravizados na Cidade de Caruaru que queremos cuidadosamente, através da pesquisa documental (re)descobrir.
São poucas as histórias existentes na íntegra sobre os negros/as na cidade de Caruaru. Sabemos porém, que na transição de fazenda à Vila, vivíamos em período de escravização no Brasil (FERREIRA, 2001).
Além disso, existem registros como processos, crimes e inventários da época que muito nos revela sobre o assunto no LAPEH[3] da UFPE[4] , onde podemos perceber como foi numerosa a população negra escravizada de Caruaru, onde possivelmente serviram de mão-de-obra para construção de monumentos como as escadarias do Monte Bom Jesus, a Igreja da Conceição, fundada em 1848 ( 40 antes da abolição), ruas, curtumes e outros.
Ou seja, é possível que os negros escravizados da Vila de Caruaru, construíram muitas coisas que atualmente compõe nossa cidade, mesmo que as mesmas atualmente não estejam com mesmo formato arquitetônico, como é o caso da Igreja da Conceição, a qual foi reformada por algumas vezes.
Chegou a hora de encontrar e de visibilizar, de fazer valer essas outras versões da História!
            Este Mês da Consciência Negra, a Professora da Rede Municipal de Caruaru, Teresa Raquel Silva, fará exposição de seu mais novo estudo intitulado: Escravidão em Caruaru: Histórias Negras Invisibilizadas.
            A Mostra acontecerá na ACACCIL, FAFICA, Casa dos Artistas(Estação Ferroviária) e ficará itinerante nas Escolas Municipais de Caruaru.




[1] Entendemos enquanto modelo eurocêntrico, os paradigmas, as ideias da Europa como ideologia dominante. Tem como referência o modelo Europeu como sociedade ideal (REZK, 1998).

[2] Atualmente município brasileiro do estado de Pernambuco. Cidade mais populosa do interior do estado, está localizada na região do Agreste Pernambucano, e possuí 337 416 habitantes (IBGE/2013), sendo o quarto município mais populoso de Pernambuco, ficando atrás somente de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda, e o mais populoso fora da Região Metropolitana do Recife e do litoral estadual. Importante polo urbano, econômico, industrial, administrativo e cultural do estado, ostenta um Produto Interno Bruto (PIB) de 3 003 634 000,00 (IBGE/2010), sendo o 7° município com maior PIB de Pernambuco. Distante cerca de 130 km do Recife, Caruaru é conhecida internacionalmente por ser o maior centro de Artes figurativas da América Latina, titulo concedido pela UNESCO. Como nasceu de uma fazenda onde seu dono tinha vários escravos, Caruaru, foi cenário de grandes homens e mulheres africanos e afrodescendentes negros.

[3] Laboratório de Pesquisa e Ensino em História.

[4] Universidade Federal de Pernambuco