quarta-feira, 6 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO: CAMINHO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO POLÍTICA

Em uma das muitas estradas que já percorri, percebi uma bonita mensagem na parede de um viaduto que dizia: “Para Jesus não eziste impocivel. Fale com Ele.” Ao mesmo tempo pensei na veracidade da frase, soltei (desculpe a sinceridade) um breve riso pela grafia não padrão, encontrada na frase.

Mas, duas coisas despertaram-me. A primeira é que mesmo com erros ortográficos, a mensagem foi passada e detectada por todos que ali passavam e a refletiam e isso nos lembra Bagno em seu livro “A língua de Eulália”, no qual nos diz que não existe linguagem errada, quando se é compreendido o dito (2002, p.35).

No entanto, outro aspecto ficou mais acentuado e posso dizer inclusive, preocupante: a relevância da educação em nossos dias, numa sociedade capitalista, um sistema neoliberal. Não vos falo de uma educação que reporta apenas gramática e regras ortográficas, mas, aquela que faz o homem, a mulher, seres críticos e reflexivos, perdendo a “casca” da “superficialidade”, que permite as pessoas serem manipuladas pelas mãos que oprimem, que detém o poder dentro das esferas política, educacional e até mesmo religiosa.

Quem são o alvo dessas esferas, para quem elas são instrumentalizadas? Será que o sistema minimamente calcula, pensa, arquiteta a educação e a política para os intelectuais, para aqueles que tem liberdade de pensamento usando sua criticidade e autonomia? Por que será que o Brasil é um país de analfabetos? Por que nossas escolas ao contrario de resgatar valores, são ainda, alvo de violências simbólicas e até mesmo físicas? Por que será que embora o discurso educacional seja ético e moral, enquanto “educação” ainda somos autoritaristas, opressores ( aqui muito lembro as formas de avaliação)?

Educação deve ser autônoma. É o princípio do ser critico pensante, ético e político. Abre caminhos, ajuda a encontrar soluções, alternativas, coragem de lutar, de vencer com seu próprio suor e dizer não ao político que tenta comprar votos e amanhã, um outro dia vai querer que o seja seu fantoche. Educação faz dizer sim ao que é de valor e não ao sistema opressor.

Agora reflitam queridos leitores: “ Por que será que temos em nosso país www milhões de analfabetos?

É com essa reflexão que a Teia da Amizade propõe alfabetizar nossos irmãos e irmãs que ainda não sabem ler. Não desejamos, nem sonhamos, queremos e estamos fazendo um Brasil sem analfabetos.

Paz e bem!

Teresa Raquel Silva.*

* TERESA RAQUEL SILVA. Professora graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru e Pós- graduanda no curso de Psicopedagogia pela mesma faculdade. Atualmente trabalha na rede municipal de Caruaru, na Escola Laura Florêncio. Participou da Escola de Fé e Política e da Pastoral da Universidade. É colaboradora do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) e hoje honradamente, integrante da Teia da Amizade: Timoneiros da Esperança.
BREVE ANÁLISE DA QUALIDADE EDUCACIONAL.
Teresa Raquel Silva*

“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade”.
Paulo Freire

Esses dias tenho “matutado”, refletido, pensado bastante, sobre a questão da educação mais especificamente em nosso país. Pensava no paralelo entre o real e o ideal, pensava como consegue esse tema causar um “rebuliço” na mente daqueles e daquelas que são verdadeiramente comprometidos com a educação; a verdadeira educação que transforma homens e mulheres (independente de suas idades), em seres críticos, reflexivos, autônomos, que crêem na vida apesar de suas dificuldades, que acreditam nas pessoas ainda que sejam sujeitos em construção.
Pensava, como (enquanto sujeito simples de uma sociedade que considera importantes, pessoas que têm cargos importantes) podemos contribuir para que a qualidade educacional saia da proclamação e se efetive de fato em nossas salas de aula, em nossas escolas, em nossas cidades, estados, regiões, no país? Até que ponto podemos? Afinal, podemos?
Sim, podemos. Acreditem!
Podemos nas instâncias micro, mas podemos.
Nossa sociedade tem ainda, a crença do macro, mas esse macro só ocorre por causa das partes unidas do micro: são dos pequenos gestos que se concretizam as grandes ações. Segundo Marshall "Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que se planejam." É desse sentimento de poder, que temos que nos deter. Não podemos desacreditar que a mudança é difícil, porém, possível (Freire,1996:76).
De fato, são tantas coisas que vemos, que entristecem-nos...
Uma amiga de nome “X”, trabalha na Escola Municipal “y”, anda muito descontente com sua situação, numa sala de aula com aproximadamente 5metros de largura e 3m cumprimento e que acolhe 25 alunos, as carteiras ficam enfileiradas do modo tradicional, onde nem aluno nem professor pode se movimentar, onde em pleno século XXI usa um quadro de giz, e o espaço entre ela, o quadro e 1ª carteira, tem apenas 2 palmos, onde ela busca fazer atividades diversificadas, mas, não dá. A mesma foi beber água no bebedouro da escola e os alunos gritaram para alertá-la: “professora, não tome dessa água não, que é da caixa e tem ratos mortos e martelos. A senhora não viu a denúncia na televisão não?”. Disse a mesma, que na hora, sentou na cadeira e começou a rir, mas de uma angustia que tomava conta de seu ser e seus pensamentos insistiam em lhe questionar: pra quê tanto estudo meu Deus? Outra vez, contou a mesma, que preparou uma atividade para seus alunos e na hora de mimeografar... mimeógrafo quebrado... Pai, o que fazer?
A resposta vem de FREIRE (1988, p.76), quando nos diz qual a nossa missão enquanto seres aprendentes: “Aprendemos, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a”. Ora, é preciso anunciar o bom, mas sobretudo, dialogar com os que “podem” informando o que nos limita a fazer. Recriar, significa transformar, nos pequenos gestos, nas alternativas que encontramos, e isso também inclui comunicar as pessoas que estão encarregadas de desenvolver a política educacional da região. É preciso mais que fazer comunicados, necessitamos de comunicação.

“[...] toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo ou contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que goza a ideologia na comunicação, ocultando verdades, mas também a própria ideologização no processo comunicativo” (FREIRE, 1988,p.158).
Essa mesma amiga, dizia ainda angustiada: “acreditas que essas crianças não fazem educação física na escola, por que não tem espaço? Acreditas que as portas da sala, são portas de garagem? Acreditas que a gestora uma vez ficou em 3 salas de 6º ao 9º ano, por falta de professores? Acreditas que o recreio deles é dentro de uma sala? Acreditas que em frente a minha sala tem um fabrico de Jeans que é a tarde toda um som bem alto com músicas de academia de musculação?

O art. 206, VII da Constituição Federal e o art. 3º, inciso IX da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei Federal 9.394/96), estabelecem por sua vez como princípio da educação, a garantia de padrão de qualidade, que passa certamente pela adequação do espaço físico da sala de aula, para um maior conforto do aluno e do professor, assim melhoria das condições de aprendizagem. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei Federal 9.394/96), estabelece ainda no art. 4º, inciso IX que é dever do Estado (Estado e Município), garantir ao aluno: “padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.”

Aos que acreditam na educação temos o dever de “re” dizer que esperem, não um esperar por esperar, parado sem ação, mas o esperar da esperança: como o próprio Freire já dizia: “Eu espero, na medida em que começo a busca, pois não seria possível buscar sem esperança. Uma educação sem esperança não é educação. Quem não tem esperança na educação deverá procurar trabalho noutro lugar.”
Busquemos educação, façamos educação, desafiemos os desafios da educação, ousemos, ou não viveremos uma “verdadeira” educação.
“ Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar” (FREIRE, 1988, p.163).
Vamos à luta companheiros e companheiras!
Acreditemos que a mudança é possível, não por que Paulo Freire nos disse, mas por que vemos todos os dias os sinais dessa mudança, que ainda se faz bebê, mas com nossos pequenos gestos, se fará um dia grande no meio de nós!
Paz e luz!

Teresa Raquel Silva.*

* TERESA RAQUEL SILVA. Professora graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru e Pós- graduada no curso de Psicopedagogia pela mesma faculdade. Atualmente trabalha como supervisora na rede municipal de Caruaru, na Escola Josélia Florêncio da Silveira. Participou da Escola de Fé e Política e da Pastoral da Universidade. É colaboradora do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) e hoje honradamente, integrante da Teia da Amizade: Timoneiros da Esperança.