“Quem cede a vez não
tem vitória, somos herança da memória. Temos a cor da noite, filhos de todo
açoite”!
Jorge Aragão
Nesse mês de Novembro, onde vivenciamos reflexões
acerca das relações raciais, pensei naqueles que ainda dizem que no Brasil não
existe racismo, mas olha para um negro e diz: “Olhe, é negro, mas de alma
branca”!
Refleti que não quero ser preta de alma
branca, eu quero ser o que sou, mulher preta, trabalhadora, vida digna,
batalhadora, lutadora, acreditando e buscando dias não de Tolerância, mas de
respeito aos povos de culturas diferentes, de cores diferentes, de padrões
sociais diferentes.
Refleti o quão articulado o negro de Caruaru
sempre foi, desde a década de 90, que militantes falavam da causa negra em
Caruaru, da situação das mulheres negras de periferia em Caruaru, a exemplo da
pessoa de Lucimary Passos (a qual se tornou referência em todo Agreste como
pessoa que luta por Direitos Humanos e Igualdade Racial), como o professor José
Laércio Ramos e Kleber Gonzaga, ambos da Pastoral Afro, na época, liderada pela
Irmã Ana Maria, que hoje reside na África. Hoje, apenas damos continuidade ao
que muitos não conheciam esse trabalho, para outros, tinha morrido.
Aqui, não deixo de felicitar os que estão no
governo e fazem atividades voltadas para temática, até por que no mundo
contemporâneo faz-se necessário, acolher à diversidade, por isso a importância
das esferas governamentais de pontuarem essas pautas em suas secretárias, por
que na verdade, somos minoria, pela evidência que estamos, no entanto, nós
negros, somos a maioria dos votantes[1], somos mais de 53%, chegam
verbas nessas pastas governamentais para essas atividades. Contudo, que bom,
que ações estão acontecendo. Contentamo-nos! Contribui mais em visibilidade
para nosso povo!
No entanto, hoje queria muito evidenciar, o
trabalho, a militância daquelas pessoas que lutam apenas pela causa, sem
receber um centavo no bolso, para ver sua causa em evidência. Movimentos que se
iniciam, a exemplo do Coletivo Ilê Dandara, outros com mais experiência como o
Quilombo Raça e Classe, Movimento Afro Cultural como o Grupo Ação Capoeira, da
Associação Vida Jovem (capoeira), e daqueles que não se agregaram a nenhum
movimento, mas estão nessa luta constantemente e que fazem suas atividades em
seus campos de trabalho, sem se importar se vão sair nos jornais, se o diretor
vai tomar conhecimento, se as pessoas vão achar importante, porém, pelo desejo difícil,
mas possível da transformação. Holofotes, combinam com grandes artistas, com
militantes, não.
Vendo a ocorrência das atividades realizadas
por esses grupos (não apenas nesse Mês de Consciência, pois nossa batalha
contra o Racismo e a Intolerância é contínua, processual), percebi a força e a
resistência desse povo que dá continuidade a nosso líder Zumbi que nunca
morreu, vive em cada uma pessoa que honra seu sangue derramado pelo opressor,
com a luta de liberdade para todos. Liberdade esta, social, intelectual,
religiosa, cultural.
Diante dessas premissas, respondo SIM.
Existem Movimentos Negros em Caruaru e não são de hoje, digamos talvez que se
evidenciam agora mais que antes, nesse mundo transformado pelas leis 10639/2003
e 11645/2008[2].
Caruaru, tem Movimento Negro sim, e hoje,
muito bem articulado. Aos que diga que não existe, nunca poderia negar a força
do Povo Negro em Movimento na cidade de Caruaru.
Atividades em escolas municipais e em
faculdades da cidade (enquanto militantes) realizadas pela união de diferentes
representações, foram realizadas por professores, advogada, Yalorixás,
capoeiristas ou simplesmente por militantes.
Essas mesmas representações, acima citadas,
realizaram além das atividades citadas acima, uma Mesa Redonda, intitulada Culturas
Negras e a aplicabilidade da Lei 10639/2003 no Município de Caruaru, realizada
no dia 19 de Novembro de 2014, no Museu do Barro – Caruaru-PE[3]. Onde tiveram presentes,
no início da atividade 102 pessoas, sendo 6 pessoas do Recife (membros do
Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e do Movimento de Mulheres em Luta –
MML). Além das falas muito imponderadas dos que compuseram a mesa, a exemplo do
Contra Mestre Marcos, Yalorixá Karla de Oxum, Professor Oswaldo do Pina,
Professor Walter Bernardino, Mestrando Tiziu e Professor Laércio, podemos ser
contemplados com a palestra da Professora Doutoranda Elizama Messias da UFPE.
Outro destaque da noite, ficou por conta do
capoeirista e graduando em Administração, Deivid Arllisson Batista Moura, que inaugurou
sua exposição de desenho em grafite: Mulheres Negras.
Nesse mês de Novembro, onde vivenciamos reflexões
acerca das relações raciais, vimos e sentimos a força do Povo Negro que está
sempre em Movimento em Caruaru. Quem é da luta não pode parar. O Movimento
comanda o mundo.
Por isso um ÊA! Por isso, muito Axé! Por
isso, saudemos a ancestralidade!
Zumbi, você vive! Não te deixaremos morrer
enquanto lutarmos a tua luta.
Liberdade sempre!
Liberte-se de seu preconceito!
[1] Dados do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia
e Estatística) DE 2012.
[2]
Altera a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino obrigatoriamente, incluirá
o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil. A Lei 11645/2008, acrescenta o ensino também
obrigatório, da história dos povos indígenas.
[3]
Contamos com a parceria da
Secretaria de Educação, pois sem o ofício com a logo de algum órgão da
prefeitura, seria mais difícil a ocupação do local onde foi realizada a atividade.
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